abril 15, 2012

A história do mendigo

Deus é infinito e ilimitado.
Nós, temos fim e limites.
Deus tem que usar algumas estratégias pra que nós, limitados, possamos entender a sua pessoa, ilimitada.
A forma máxima que Deus utilizou para se expressar para nós, foi se esvaziar da sua condição de Deus e se limitar a forma humana, na forma de Jesus. Deus simplificou toda a sua grandeza, numa forma mais simples, que pudéssemos entender.
Jesus, enquanto estava na terra, explicando como funcionava o reino de Deus, também tinha que simplificar o assunto, até ele tomar uma forma que as pessoas conheciam. E o mundo que as pessoas da época de Jesus conheciam tinha pescadores, semeadores, pastores e ovelhas, viúvas, patrões e funcionários, servos e senhores, juízes, mordomos, árvores, sementes, fermento, trigo, joio.
Talvez pra nós essas histórias de Jesus sejam difíceis de entender. Ou porque já ouvimos muitas vezes e perderam o significado, ou porque lemos em uma bíblia de linguagem difícil, ou mesmo porque o nosso mundo de hoje é muito diferente, e já não entendemos muito bem a relação de um pastor com suas ovelhas.
Por isso, acho importante que a gente conte a história do reino de Deus de um jeito que as pessoas entendam hoje. E já falei da melhor comparação atual que ouvi do evangelho de Deus:
As boas novas de salvação são como um mendigo que encontrou pão, mesa farta.
E não contente em ficar só pra si, volta pra avisar os outros mendigos de onde encontrar o mesmo pão que o tirou da fome.
E isso sempre me emociona porque entendi que a minha condição é como a do mendigo. E entendi que quem me deu o pão não fez isso por fruto do meu trabalho ou da minha pureza.
Você pode ampliar essa comparação pra adicionar nela as pessoas que ainda não conhecem ou aceitaram o evangelho: alguns não encontraram sozinhos, alguns não foram avisados de que havia pão, outros foram avisados mas não acreditaram que era verdade. E por aí vai.
Podemos também adicionar um lado mais triste na história.
Os que encontraram o pão e, não contentes com apenas avisar que o pão estava disponível gratuitamente, tentam lucrar em cima de seus companheiros, cobrando pelo pão que ganharam cobrando para compartilhar aquilo pelo que não pagaram. E alguns cobram preços altíssimos.
Assim me sinto quando me cobram pelo tempo "investido" comigo. Cobrança por compartilhar a doce presença, o ar de sua graça, com um reles mendigo. E não satisfeito em cobrar de mim, continuarão fazendo negócio com aquilo que encontrou, com aquilo que Deus deu.
Mas fico tranquilo em saber que a verdade nessa triste segunda parte da história que eu contei, não é bem assim. Aqueles que estão tentando cobrar por tamanha "preciosidade", não encontraram o pão verdadeiro. Jesus é o pão da vida para aqueles que crêem, e a vida, ao contrário das trevas, não traz medo, culpa, cobrança.
O que vendem então, ou pelo que tanto estão cobrando esses negociantes? Não sei. No máximo, pão velho e mofado, ou bolotas que encontraram pelo caminho. Coisas que não os deixaram satisfeitos e estão tentando acumular mais gente pra dividir o prejuízo do alimento estragado.
Se tivessem encontrado o pão verdadeiro, o sinal seria claro. Gratidão. Misericórdia. Compaixão pelos que ainda não encontraram. Como o mendigo do começo ali em cima, que não se achou merecedor daquilo que ganhou.
Pra um mendigo, sem teto, sem casa, sem comida, sem reconhecimento, a quem a sociedade não dá muito valor, não atribui qualidades, e não dá oportunidades, é fácil reconhecer aquilo que possui. Nada. É isso que ele tem. É isso que ele construiu. É isso do que ele tem pra se orgulhar.
Já pra nós, é mais complicado. Nós que temos casa, comida, carro, trabalho, video-game, boa formação, oportunidades, reconhecimento, curso superior, qualidades, boa família, amigos, um bom currículo, damos duro na vida, prosseguimos apesar do cansaço, fazemos acontecer, fazemos tudo pela igreja e pelos outros, e a lista segue, nós que temos tudo isso, como vamos reconhecer que não temos nada? Vou mentir e declarar que não ligo pra nada disso? Afinal, fiz tudo por merecer, não? Trabalho duro, mereço o que construí.

O verdadeiro arrependimento está em reconhecer que se ainda não encontrou a Cristo, o pão da vida, não se tem nada. Paulo tinha tudo o que eu descrevi e mais. E considerou como esterco.

Você pode continuar achando que não é tão pobre e miserável como o mendigo, que não pode se rebaixar tanto, e achar tão indigno e sem valor como ele, não pode desmerecer tudo aquilo por que lutou.
Garanto que quem pensa assim, não encontra o pão.
No máximo, continuará com fome.
Ou pior ainda, criará uma legião de outros mendigos seguidores atrás das bolotas ou do pão mofado, que está sendo vendido como fresco. E receberão duro julgamento, por não querer encontrar, e dificultar o caminho dos que querem.

A bíblia fala bastante nos pequeninos, nos mais fracos.

Não entrará no reino de Deus aquele que não se fizer como uma criança.
Uma criança ainda não teve tempo de achar que ela merece alguma coisa.